Meditação e saúde
- Marisa F Mendes
- 11 de set. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 15 de out. de 2020

Dentre as práticas de autocuidado mais difundidas nos últimos anos, sem dúvida, a meditação é mais badalada. Em todos os lugares, vemos pessoas falando, ou ensinando técnicas de meditação.
O que antes era uma prática de tradições milenares, yogis e buscadores passou a ser algo desejado e recomendado por especialistas de diferentes áreas da saúde em quase todo o mundo.
Meditar se tornou moda.
O interesse das pessoas pela meditação faz parte do interesse pelo cérebro, diante do grande número de estudos que passaram a ser publicados sobre essa prática integrativa da mente e do corpo, a partir da segunda metade do século XX. Nessa época, os avanços das neurociências permitiram, dentre outros fatos, a observação dos efeitos positivos da meditação no organismo e por consequência na saúde.
Mais recentemente, meditar passou a compor as chamadas práticas contemplativas, um conjunto de atividades seculares que, finalmente, a ciência comprova promoverem melhorias físicas e mentais. Isso, sem dúvida, acrescentou muitos fiéis a essas práticas milenares.
De forma geral, na meditação a mente é ancorada em uma palavra, um som, uma imagem, uma oração - mantra - ou simplesmente na própria respiração, permitindo assim que se manter no momento presente. Algo que sabemos ser muito complexo para aqueles que vivem no passado ou no futuro.
Existem muitas formas de se meditar. Algumas estão bastante famosas.
Daniel Goleman foi um dos primeiros neurocientistas a pesquisar sobre meditação. Entre outras coisas, Goleman observou que pessoas que meditam são capazes de resistir melhor aos golpes da vida, lidar melhor com o desgaste diário, e sofrer menos consequências diante deles.
Os estudos de Goleman nos ensinam que a meditação treina a atenção e torna as pessoas capazes de maior empatia. Isso é simples de compreender, afinal, nos relacionamentos interpessoais uma pessoa atenta a si é capaz de captar melhor as mensagens que estão sendo transmitidas, e responder a elas de forma menos reativa. Para os neurocientistas, meditar é um exercício de atenção e foco. Um exercício da mente, que inclui a reflexão e transforma a percepção. Pessoas que meditam regularmente têm demonstrado maior poder de recuperação do estresse, mesmo quando não meditam antes de acontecimentos estressores.
Mas meditar pode sugerir paradigmas e crenças religiosas, misticismo, mesmo quando difundida por profissionais de saúde, o que pode afastar algumas pessoas dessa prática ou incentivar crenças irreais sobre a própria meditação.
Deixando de lado essa discussão, sabemos que pessoas que meditam são capazes de romper o que se chama de “espiral de reação de enfrentamento e fuga”, e são mais capazes de voltar a calma e relaxar após um desafio ser superado. Isso oferece ao corpo maior rapidez na recuperação de suas funções, o que gera menos desgaste, mantendo-se mais saudável.
Esta capacidade de sair de um estado de tensão para um estado de relaxamento em prazos cada vez menores, em decorrência da prática regular da meditação, é descrita pelo professor de Yoga e Meditação Sandro Bosco em seus livros e aulas. Também é a justificativa provável para o fato de haver uma menor incidência de ansiedade e distúrbios psicossomáticos entre meditadores.
Os benefícios da meditação também já foram comprovados para pacientes cardíacos, diabéticos, com dor crônica, entre outros.
As técnicas de meditação variam entre técnicas de concentração, técnicas para estar consciente ou a soma das duas. A mais antiga e poderosa técnica de meditação, e talvez a mais simples, é o ato de observar a própria respiração. Quando meditamos estamos em estado de observação, atenção. Observar e sentir é o que nos mantém aqui e agora.
Vale a pena diferenciar meditação e relaxamento. Essa questão me acompanhou por anos, quando comecei a me interessar mais profundamente sobre as práticas corporais nos idos dos anos 90. Meditar é sentir e observar. Relaxar é descansar, embora possa preceder uma meditação. Relaxamento costuma ser uma consequência do ato de meditar, mas não necessariamente é a mesma coisa. Mas sim, algumas pessoas em práticas de relaxamento meditam.
A pessoa que medita volta sua atenção para seu interior e com isso se torna mais consciente de seus pensamentos, sensações e outros estados que emergem espontaneamente. Nem todo mundo que relaxa fica consciente, alguns até dormem. E que bom que dormem! Sempre digo que se você dormiu em uma prática é porque precisava. Ou não é evidente que as pessoas estão dormindo menos do que precisam?
Meditação pode alterar padrões de comportamento. Mas não é esse seu maior objetivo, pelo menos não em sua origem.
Meditar, assim como outras terapias complementares e contemplativas, é uma oportunidade para que sejamos um pouco mais livres de nossos modos de vida estigmatizados, para sermos mais conscientes de nós mesmos e expressivos sobre nossas necessidades. Ou seja, um pouco mais humanos, no amplo sentido desse termo.
Quem medita tem mais oportunidade de se auto observar, de conhecer a si mesmo, seus modos de estar no mundo, reações, pensamentos, interações. Com sorte, se faz mais tranquilo, delicado no trato com os demais. Uma boa prática para tempos contemporâneos.
Talvez por isso, Sandro Bosco nos recorde que estar consciente do corpo ou da respiração, uma das etapas da meditação, é uma ação. E uma ação é diferente de pensamento. Pensar pode suscitar dúvida. A mente pensa e a consciência observa, ensina o professor. Para ele, meditação é um caminho seguro para conhecermos nossa natureza interior, e eu completaria, meditação é uma caminho seguro para conhecermos nossa natureza humana, e ele completa: “tudo o que procuramos fora temos dentro de nós em abundância”. E afinal, saúde começa em nossa capacidade de reconhecermos a nós mesmo.
Para citar esse artigo:
MENDES, Marisa F.. Meditação e saúde. Rio de Janeiro, 11/09/2020. Disponível em: https://www.marisa-mendes.com/single-post/meditação-e-saude . Acesso em:
Para saber mais:
BOSCO, Sandro. Posturas Restauradoras de Yoga: primeiros socorros para 30 distúrbios, como dor de cabeça, ansiedade e insônia. São Paulo: Matrix, 2012.
BOSCO, Sandro. Posturas de yoga em dupla: a importância do toque para a consciência corporal. São Paulo: Matrix, 2017.
GOLEMAN, Daniel. A arte da meditação: Aprenda a tranquilizar a mente, relaxar o corpo e desenvolver o poder da concentração . Rio de Janeiro: Sextante, 2018.
The Tree of Contemplative Practices. Disponível em <http://www.contemplativemind.org/practices/tree> Acesso em: 03/09/2020.
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