Por Janeiro Branco o Ano Inteiro
- Marisa F Mendes
- 15 de fev. de 2017
- 2 min de leitura

E lá se foi janeiro. Mais um ano começou e com ele novos sonhos e perspectivas. Pensando nisso, em 2014, um psicólogo mineiro criou o movimento Janeiro Branco em prol da saúde mental.
Falar em saúde mental pode deixar muita gente constrangida. Afinal, ainda hoje, é difícil pensar em saúde sem pensar em doença, e nesse caso o estigma ainda é muito grande.
A saúde mental já foi questão de polícia.
Alguém conduzido por um policial a um hospício poderia ficar para o resto de sua vida enclausurado nesse lugar. Machado de Assis, em seu Alienista, nos conta a história do Dr. Simão Bacamarte, um jovem médico psiquiatra, que em pouco tempo interna grande parte de uma cidade em sua Casa Verde.
Somente nos anos 80 a realidade da saúde mental no Brasil passou a ser modificada. De lá para cá, muita luta vem sendo realizada para que a saúde, e em particular a saúde mental, possa ser compreendida como algo além da definição da OMS, muito avançada para a época em que foi descrita, mas já questionada nos últimos anos, que propõe ser a saúde algo além da ausência de doença, e sim uma situação de perfeito bem estar físico, mental e social.
Deixando de lado a visão positivista que pode nos nortear em diferentes situações, essa definição é tida, para alguns autores, como irreal, ultrapassada e unilateral. A começar por sua ideia de perfeito, que implica um conceito bastante subjetivo; ou a distinção entre físico, mental e o social, que há muito a psicanálise ajudou a desconstruir; assim como a ideia de qualidade de vida, que, do ponto de vista da Bioética e seu conceito de autonomia, só pode ser avaliada pelo próprio sujeito. (Serge, M. & Ferraz, F.C., 1997).
A saúde, compreendida de forma integral, é mais pertinente à possibilidade de enfrentamento, consequência de cuidados variados. Nessa concepção, temos a consciência de que todos nós, por diferentes motivos, podemos em algum momento não dispor de saúde, inclusive a mental.
É nesse contexto que podemos nos alegrar com movimentos como o Janeiro Branco.
A campanha, ao promover a disseminação de ações em prol da saúde mental, pode auxiliar a ampliar a compreensão desse conceito, e enfatizar a autonomia do sujeito em relação a sua própria vida e consequentemente sobre sua saúde. E que venham muitos janeiros brancos o ano inteiro.
Como citar esse artigo: Mendes, Marisa F. Por janeiro branco o ano inteiro. Rio de Janeiro, 15 fev 2017. Disponível em: https://www.marisa-mendes.com/single-post/por-janeiro-branco-o-ano-inteiro . Acesso em (...).
Para saber mais:
Marco, Serge e Ferraz, Flávio Carvalho. O conceito de saúde. Revista de Saúde Pública. 31, (5): 538-42, 1997.
Da Fonte, Eliane Maria Monteiro. Da institucionalização da loucura à reforma psiquiátrica: as sete vidas da agenda pública em saúde mental no brasil.
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